Por Graça Melo - 21/08/2015
É comum um novo governo se isentar de responsabilidades, quando a origem de certas questões está em governos passados. Errado! Diz o velho ditado: “Casou com a viúva, tem que criar os filhos.” Governos herdam sucessos, herdam desastres, herdam responsabilidades.
Um dos velhos dilemas do Distrito Federal é a desenvoltura com que os grileiros desfilam pelas passarelas do planalto. Fatiam terras alheias, vendem para quem sonha com a casa própria e, depois, desaparecem com o bolso cheio de dinheiro. Se as coisas derem erradas, quem paga o pato é quem pagou pela terra. Os grileiros nunca se dão mal. Nessa hora eles estão longe, em um novo projeto, fazendo novas vítimas por meio de velhas canalhices.
Os puristas da moralidade não se acanham em culpar a vítima. Preferem viver em seu exclusivismo egoísta e fingir que o problema nasceu do nada. Quando a casa da vítima vem abaixo, batem palmas, como os velhos e decrépitos nobres da idade média, para quem só interessa sangue derramado e ranger de dentes.
Mas ninguém se move quando o grileiro volta a cometer seu crime. Afinal, sempre teremos a quem culpar. Afinal, a vítima tem endereço e pode ser encontrada. E o padrão de comportamento social e político se repete governo sim, outro também.
Vamos pensar. Não é mais fácil os órgãos de fiscalização atuarem quando a invasão começa? Não é nessa hora que o grileiro ainda está visível e, portanto, acessível à polícia? Possivelmente todos diriam que sim. O governo dirá que sim, também, mas vai lembrar que tudo começou nos governos passados. É surpreendente a rapidez da fuga à responsabilidade.
A dura verdade é que, por alguma razão, não interessa pegar o criminoso com a boca na botija. O Estado se omite lamentavelmente na origem do problema e prefere agir quando o criminoso já se foi, punindo as vítimas.
"Vamos pensar. Não é mais fácil os órgãos de
fiscalização atuarem quando a invasão começa? Não é nessa hora que o grileiro ainda
está visível e, portanto, acessível à polícia?"
O Jardim Botânico é um dos locais do DF que mais atrai grileiros. Há vários focos e o governador está avisado. A expansão da Vila do Boa, em São Sebastião, teve início em 2012 e, por várias vezes, a AGEFIS foi avisada. Nada fez além de se omitir e com isso ajudar a invasão se consolidar. Ao lado da quadra 14 do Jardins Mangueiral uma nova invasão está sendo conduzida por grileiros. É zona de risco, por situar-se em uma encosta. Abaixo da quadra 12 do Jardim Botânico 3, uma invasão se iniciou em lotes vazios do parcelamento que nasceu regular, em terras da Terracap, e se expande para uma área de reserva ambiental. Na Estrada do Sol, a ocupação se dá sem respeitar os recuos impostos pelas normas de construção. As lideranças comunitárias já denunciaram. Portanto, não há como fingir ignorância dos fatos.
Como consequência desses fatos, os prejuízos ambientais e sociais se acumulam. Bolsões de pobreza se formam, multiplicando a criminalidade, atraindo o tráfico de drogas e puxando a bandidagem para perto de uma população condenada à ausência de infraestrutura e habitação digna. Incêndios criminosos proliferam, áreas de proteção ambiental são afetadas irremediavelmente, com importantes nascentes atingidas e muitas extintas. Enfim, há uma longa lista de desastres no berço da grilagem, alimentadas pela falta de políticas habitacionais robustas e materializadas em invasões.
O que esperar de Rollemberg? Será que ele pensa que não casou com a viúva?
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